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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Através de Um Espelho - Um filme de Ingmar Bergman

                                                                           "Papai falou comigo?"Minus
É com o filme, Através de um Espelho (Såsom i en spegel, 1961), que o diretor Ingmar Bergman deu início a tão aclamada "Trilogia do Silêncio". O longa trás em seu elenco Max Von Sydow no papel de Martin; Harriet Andersson como Karin e esposa de Martin; Gunnar Björnstrand - o pai de Karin - como David e, por último, Lars Passagard, irmão de Karin, no papel de Minus. O filme conta a história de uma familia marcada pela dor, pela indiferença, pelo medo, pela angústia e pelo desespero. David, o pai ausente, que é um escritor que desde a morte de sua esposa, que sofria de sério problemas mentais, tornou-se mais ausente. Karin, sua filha, sofre dos mesmos males da mãe. Martin, esposo de Karin, vive a dor de viver ao lado de sua mulher em meio as suas constantes e contrangedoras alucinações. E, por fim, Minus que sofre por presenciar tão de perto a indiferença de Matin, a ausência de David e a doença de sua irmã Karin. O diretor, Ingmar Bergman, procura pontuar de maneira objetiva as ações psicológicas de cada um dos personagens no intuito de desvendá-los de suas verdadeiras e ocultas identidades. David, por exemplo, após muito tempo longe de casa decide regressar para passar um período com a sua familia. Entregou-se ardorosamente ao trabalho de escritor ganhado reconhecimento internacional afim de camuflar para si mesmo as suas fragilidades como pai. Após viver anos com a sua mulher vítima de problemas mentais vê agora, também, a sua filha Karin passando pelo mesmo martírio. Martin, seu genro, em um diá-
A respeito da relação de Martin com a
Karin, David pergunta: "Mas desejou
que Karin morresse?
(...) Pode jurar que
nunca pensou nisso? Seria lógico
."
logo marcado por duras verdades ele diz David: "Você não tem sentimentos. Nem decência você tem, você sabe se expressar bem (...) Mas há uma coisa sobre a qual você não entende nada. A vida." Já Karin que vive a vida entre loucuras e devaneios, acredita que uma Entidade Superior irá levá-la para um bom lugar. Enquanto isso ela vive em total abstinência sexual com seu marido ao mesmo tempo que subjetivamente nutre uma espécie de desejo pelo seu próprio irmão. Minus em meio a esse turbilhão é o que mais sofre. Primeiro pela ausência do pai, segundo pela indiferença do cunhado, terceiro por presenciar o sofrimento de Karin e, por último, por não haver ninguém para compartilhar sua dor. Minus sofre calado, enclausurado dentro do seu restrito mundo. Aos poucos vai se tornando cético. A dúvida a respeito da existência de Deus vai aos poucos ganhando terreno em sua consciência. No entanto, foi em meio a todo esse turbilhão que o pai, David, já cansado de sua falsa existência e por fugir de uma realidade que a anos foi negligenciada tenta, agora, restituir o que um dia desmoronou, ou seja, o amor pelos seus. Em momentos de tamanha introspecção durante o longa ele diz, primeiro, a Martin: "Nesse vazio dentro de mim, nasceu algo que não compreendo cujo nome não sei. Um amor por Karin. E Minus." Em um segundo momento ao se desculpar com Karin pela sua ausência ele diz: "Fico doente de pensar na vida que sacrifiquei pela minha tal arte." E em um último plano, ele que viveu ou tentou viver toda a sua existência fora da realidade na tentativa de esquecer os problemas e não
Não encontrando em que se apoiar,
Minus pergunta ao pai: "E o que seria?
Um Deus? Mê de uma prova da
existência Dele. Não pode.
"
encará-los, aconselha, agora, a Minus para que não siga os seus passos. E, então, ele diz: "Só posso dar a você uma ideia da minha própria esperança. É saber que o amor existe de verdade no mundo humano. (...) O maior e o menor, o mais absurdo e o mais sublime. Todo tipo de amor. (...) Não sei se o amor é a prova da existência de Deus ou se é o próprio Deus. (...) Esse pensamento ameniza o meu vazio e o meu desespero sórdido. De repente, o vazio se transforma em abundância e o desespero em vida. é como a suspensão temporária de uma sentença de morte." Portanto, muito embora a dor tenha sido uma carga que vinha se alastrado desde muito tempo em toda a familia, paradoxalmente, foi ela que os uniu. Através de um espelho, é um filme repleto de ricas mensagens, a saber: toda espécie de ausência paternal é, sensilvelmente, dolorosa na vida dos filhos; a indiferença é, por sua vez, um câncer na alma; a falta de amor impossibilita qualquer relação verdadeira e que quanto aos problema: não devemos fugir deles, mas encará-los. Portanto, veja, pense e repense. Até a próxima postagem.

Veja, também:
Ingmar Bergman (1918-2007)
Crise (1946)
Porto (1948)
Sede de Paixões (1949)
Rumo à Felicidade (1950)
Juventude (1951)
Quando as Mulheres Esperam (1952)
Monika e o Desejo (1953)
Noites de Circo (1953)
Sorrisos de Uma Noite de Amor (1955)
O Sétimo Selo (1956)
Morangos Silvestres (1957)
A Fonte da Donzela (1959)
O Olho do Diabo (1960)
Luz de Inverno (1962)
O Silêncio (1963)
Persona (1966)
A Hora do Lobo (1968)
Vergonha (1968)

Através de Um Espelho (1961) - Trailer Oficial

6 comentários:

  1. Seu último paragrafo resume muito bem o que é esse belo filme. Não é um dos mais faceis de Bergman, mas encanta pela sensibilidade. Muito bom esse especial de Bergman que vc tem feito. Valeu pelo comment lá no bog na postagem do Assalto ao Trem Pagador, foi bastante pertinente.

    Um grande Abraço.

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  2. Através de um espelho é o melhor filme da trilogia do silêncio de Deus de Bergman. Cenas maravilhosas: o desespero da doente que se acha curada mais depois percebe que sua doença continua e está evoluindo e como sempre a dúvida sobre a existência de Deus. Primoroso.

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  3. Oi, Maxwell :) Poxa, eu não vi o filme. E nem sabia que fazia parte de uma trilogia! xD
    Não sei se assistiria logo. Pela resenha achei forte, intenso e com muitos conflitos psicológicos. Por enquanto, o filme "Crise" me desperta uma curiosidade maior.

    Bjs ;)

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  4. Ah Max... quando eu penso que já vi de tudo no seu blog, você me aparece com uma dessas? Ou melhor, com um filme desses? E mais uma vez, o elenco merece destaque, porque convenhamos, o que foi essa atuação de Harriet Andersson? (Que também impressionou em Gritos e Sussurros)É uma das minhas atrizes preferidas, juntamente com Liv. Um filme marcante, com frases marcantes e direção impecável de Bergman.

    Parabéns por citá-lo.

    *Fico extremamente lisonjeada com seus comentários.E mais, muito feliz que esteja acompanhando e gostando desta pequena homenagem que eu fiz ao cinema alemão.

    Até breve!

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  5. Olá,Celo. Muito obrigado por sua palavras. Este é um dos filmes de Bergman que mais gosto. Podemos tirar deste ideias fenomenais. Um abraço...
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    Oi, Gilberto. Você, realmente, parece demonstrar conhecer bem o Bergman. Seja sempre bem-vindo. Um abraço...
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    Oi, Ana. Este é um filme muito intenso. Bergman trabalha, aqui, com conceitos subjetivos que mergulham no cerne da alma humana.Fico feliz que tenhas gostado. Um abraço...
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    Oi,Rubi. Também sou fã de Harriet Andersson. Ela é, realmente, incrível. Um grande atriz. Muito obrigado, Rubi, por suas palavras. Fico feliz com você, aqui, em nosso espaço. Um abraço...

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  6. Queria copiar o texto pra salvar no meu pc mas não deu.Uma pena...

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