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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Quando as Mulheres Esperam - Um filme de Ingmar Bergman



Do diretor sueco, Ingmar Bergman, Quando as Mulheres Esperam (Kvinnors Väntan, 1952), o filme, trás em seu elenco principal: Anita Björk como Rakel, Eva Dahlbeck (Karin), Maj-Brittnilsson (Marta) e Aino Taube (Annette). O filme conta a história de quatro mulheres que juntas em uma casa de campo esperam, ansiosamente, a volta de seus maridos, os irmãos Lobelius. Cada uma das esposas, enquanto esperam seus maridos que estão em Estolcomo, começam a falar a respeito de suas vidas privadas. Annette, a mais velha das mulheres, já, de início começa por se lamentar a respeito do longo período de tempo em que ficarão instaladas nesta casa de campo, aumentando a ansiedade pelos maridos que, ainda, não chegaram. "Estaremos todas juntas aqui, diz Annette, com nossas mágoas vulneráveis à curiosidade das outras. Para mim, não será bem umas férias". No entanto, a mágoa de Annette vai além de uma expectativa física pela ausência de Paul. A ausência emocional é a sua maior insatisfação. A sua fala é carregada de duras verdades a qual se revelam de maneira efusiva e pontual. As ações repetitivas, o cotidiano, o hábito e a rotina tomam conta do casal. Ambos vivem uma relação de fachada. Passam a ligeira impressão de que tudo está em perfeito controle e, assim, vivem uma vida mergulhada em um mar de infelicidade. E é movida por uma falsa ideia, das demais mulheres, que acreditam que ambos desfrutem de uma boa relação, Annette desconstrói todo engodo dizendo: "É claro que temos. DizemosOláeTchau”. “Bom dia, querido”... “Boa noite, meu amigo”, “Como foi seu dia”. (...) Mas nunca nos aproximamos um do outro. Nunca temos qualquer tipo de afeto ou intimidade. (...) Não posso nem gritar com ele. Não posso amarra o corpo dele ao meu. Não posso arrancar seus olhos para que fique cego e dependa de mim. (...) Uma mulher adulta que devia ter se resignado e se encontrado. (...) Só tenho a minha vida, só isso. (...) Mas que nos tornamos? Um casal de fantoches chineses corteses. Não, eu me recuso. Não é para as coisas serem assim..." É claro como a rotina, aqui, já se instaurou, a subserviência, a humilhação, a inoperância diante da caos do desamor que tomaram conta do casal é gritante. Portanto, mediante a todo esse turbilhão existente, advém, então, a lembrança mais uma vez, a pergunta de Annette a si mesma, mais do que as demais amigas que estavam ao seu lado: "Mas o que nos tornamos?". Aos poucos as mulheres vão deixando explícito as suas angustias e manifestando um sentimento similar ao de Annette. Primeiro, Karin diz: “Não está sozinha em sua solidão como pensa". E, segundo, Marta que, também, participa da conversar e se solidariza com ela dizendo: "Sentir-se abandonada. Sabemos como é esse sentimento". Rakel é a primeira a revelar a sua história mais íntima compondo através de quadros e lembrança. Ela fala do seu envolvimento amoroso com Kaj (Jarl Kulle), um amigo de infância, e muito próximo do seu esposo Eugen (Karl-Arne Holmsten). Kaj, a representação do tipo esteta, não se prende a nenhum quesito moral. Ao saber da ausência de Eugen, parte ao encontro de Rakel. A sua chegada, surpreende Rakel que estava no quarto com roupa de banho envolta, apenas, com um roupão. Movida por uma falsa conduta moral, Rakel, se restringe, momentaneamente, as investidas de Kaj. As palavras deste revelam o inconsciente dela, quando diz: "Sua moral está te causando dor. Há apenas uma cura: operar!" E é movida pela falta do que mais aproxima as mulheres, a saber: a paixão, que Rakel parte, incondicionalmente, ao braços de Kaj. E é, então, neste instante que ela desvela a insipidez de sua vida amorosa, ao lado do seu marido, na tentativa, talvez, de justificar o seu encontro com Kaj, dizendo: "Apesar de eu fazer tudo que Eugen quer que eu faça... nenhum de nós é feliz. Geralmente, ficamos irritados e deprimidos. Então, hoje, finjo sempre está satisfeita... e isso o deixa satisfeito também. No final, acho tudo nojento ". Após haver vivido o seu instante de prazer com Kaj, Rakel resolve contar tudo para o seu marido que desbaratado se dirige a casa de barcos com uma arma afim de se matar. Desesperada vai à casa de Paul, esposo de Annette, para tentar convencê-lo do contrário. Eugen não se mata e resolve continuar ao lado de Rakel. O segundo momento se incia com Marta e a sua relação não menos tumultuada com Martin Lobelius (Birger Malmsten). E é a partir de recordações de sua gestação, já no oitavo mês, ela fala como tudo começou: foi em uma boate em Paris que acompanhada de um jovem soldado, Bob, se vê logo atraída por um antigo vizinho, Matin, um artista plástico. Na saída da boate discuti com Bob e segue só para o seu apartamento. Sozinha é surpreendida com um bilhete posto por debaixo de sua porta. O diretor, Ingmar Bergman, parece, aqui, nesta cena traçar todo processo de sedução necessário para alimentar a fantasia feminina. Matin, que mais parece a personificação do Eros, segue toda a cartilha de um grande sedutor. Comedido em suas intenções, segue a cada passo em busca de seu objetivo: conquistar o coração de Marta. O olhar, o bilhete, a gentileza e a música são ferramentas usadas por Martin de maneira sutil. O ambiente em que a cena ocorre ora oscila, entre a luz e a escuridão, em meio a uma reciprocidade paradoxal semelhante ao amor. O encontro de Marta com Martin em seu apartamento é o início de uma paixão torrencial. A áurea de este amor é manifesta nos passeios do casal pela bela cidade de Paris e regiões bucólicas. A sensação de infinitude em que permeia as cenas é o sentimento internalizado do amor, ou seja, a sua eternidade. No entanto, a fantasia vivida por Marta não demorou muito. As preocupações familiares, econômicas e sociais, sentidas por Martin, serviu como um meio para o esfriamento da relação de um sentimento de indiferença que já existia nele enquan-
to potência. Grávida e sensível, Marta não encontrou espaço para anunciar a sua gestação a Martin que não se punha em escutá-la. E, o último momento, termina com Karin e a situção em que ela e o esposo Fredrik Lobelius (Gunnar Björnstrand) - um empresário bem sucedido que vive quase todo o seu tempo dedicado a sua empresa -passaram presos em um elevador quando seguiam para seu apartamento. Sem tem para onde ir, senão esperar ajuda, o casal se põe a conversar sobre tudo. Aspectos de suas vidas íntimas, desejos e paixões são explicitados. Fredrik afirma haver se envolvido amorosamente fora do casamento e, Karin, por sua vez, não nega que, também, haja sucumbido a este tipo de escolha. O filme, Quando as Mulheres Esperam, abre um espaço para uma outra mulher: a jovem Maj (Gerd Andersson) de apenas 17 anos. Apaixonada por Henrik Lobelius (Björn Bjelfvenstam), o irmão mais novo da família Lobelius,  resolvem, então, fugir. Decididos partem para outro país afim de viverem a sua própria história. Bergman consegue de forma exuberante vasculhar o inconsciente feminino no intuito de compor um conjunto de sentimentos que comunga com seus anseios. Annette, Rakel, Marta e  Karin são mulheres que sofrem das mesmas angústias envoltas em seus casamentos desgastados e cauterizados pelo tempo. Juntas não querem outra coisa, senão amar e serem amadas. Eis, portanto, o teor deste filme. Espero que tenham gostado. Até a próxima, então.

Veja, também:

Quando as Mulheres Esperam (1952) 

11 comentários:

  1. Como vai Maxwell,
    Ótima Postagem, eu não conheço o filme mas sua resenha sobre ele esta muito boa, realmente percebe-se que se trata de uma grande produção afinal, Bergman esta entre os maiores mestres do cinema, e sua homenagem a ele esta muito fiel. Parabéns.

    Grande abraço

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  2. Também não conheço Quando as mulheres esperam, mas em se tratando de Bergman, deve ser muito bom (apesar de eu gostar mais da segunda fase de sua carreira). Abraços

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  3. Oi, Maxwell :) O título já tinha me chamado atenção e agora que li sua análise, só aumentou minha vontade de assistir esse filme.
    Esse tema de maridos ausentes, - que além da distância física, ainda são distantes emocionalmente - é bastante discutido em livros.
    Seria interessante conhecer a visão de Bergman sobre assunto, que com certeza é profunda.
    Vou por na lista!

    Bjs ;)

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  4. Esse ainda não vi. Entretanto, além de ser um Bergman, seu texto me deixou bastante interessado no filme, Maxwell! Abraço!

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  5. Olá, Jefferson. Obrigado pela palavras. Falar de Bergman, aqui, está sendo um prazer. E tê-lo neste espaço só enriquecer mais nosso conteúdo. Um abraço...
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    Oi, Gilberto. Pode ter certeza, irmão. Este filme é fantástico. Com certeza você vai gostar.
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    Olá, Ana. Penso como você, amiga. É muito comum toda essa ideia em romances. Já li muita coisa nesta temática. Vê filmes do Bergman neste contexto, também, é de grande valia. Um abraço...

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  6. conheço e adoro esse filme!!!!
    mt bem lembrado

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  7. Confesso que ainda não assisti este filme, mas se tratando de Bergman... só pode ser bom. Você como sempre, deixando os leitores super curiosos à respeito do filme com suas resenhas. Já está anotado, e assim que assistir volto aqui pra opinar.

    Parabéns, mais uma vez por esta sequência de filmes do meu querido Bergman!

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  8. Olá, Aquiles. Feliz por vê-lo, aqui, mais uma vez. Um abraço, irmão.
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    Oi, Rubi. Mais uma vez sempre muito gentil com as palavras. Obrigado, Rubi. Com certeza você vai gostar de vê-lo. Um abraço...

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  9. Nossa! Sua narração é maravilhosa,como sempre desperta uma vontade imensa de assistir, você percebe toda a sutileza do filme.Adorei!
    Linda semana e muita luz!
    Ana

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  10. Oi, Ana Coeli. Você como, sempre, muito gentil. Obrigado por suas palavras. Fico feliz que tenhas gostado.

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  11. Seu comentário é excelente, mesmo para quem, como eu, tem se dedicado a estudar a filmografia de Ingmar Bergman, sobre a qual venho desenvolvendo pesquisa de doutorado junto à UFMG, e, portanto, já tem uma 'leitura' pessoal do filme. Confesso que tirei contribuições importantes sobre esta película de início dos anos 50. Abraço!
    Álder Teixeira

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