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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Persona - Um filme de Ingmar Bergman



Um dos mais intrigantes filmes do aclamado diretor sueco, Ingmar Bergman, Persona (Persona, 1966), trás em seu elenco principal Bibi Andersoson como a enfermeira Alma e Liv Ullmann no papel da Sra. Vogler, uma renomada atriz. Tudo começa com a internação da Sra. Vogler, logo, após a última apresentação de Electra de Sófocles, uma peça. Durante a encenação ela emudece abruptamente. Em seguida, passa a não freqüentar mais os ensaios e mergulha em um silêncio total. Internada, em um hospital para a sua reabilitação, fica aos cuidados da doutora Margaretha Krook que envia a enfermeira irmã Alma para que a assista. Não vendo mais necessidade para que a Sra. Vogler permanecesse hospitalizada e de que, também, não voltaria mais a sua casa, a doutora propõe que se instale, juntamente com a irmã Alma, em sua residência de verão na praia para sua recuperação. Com grande perspicácia e conhecimento das angústias que atormentam a alma, a doutora parece tecer todo o processo de perturbação que circunda os sentimentos da Sra. Vogler que em meio as tentativas frustradas de ser ela mesma ou outra de si, na inevitável escolha diante da realidade que perenemente se apresenta, mergulha em um leque de possibilidades do sim e do não da existência paradoxal da vida. Bergman, o diretor, parece se apoiar em teses existenciais Kierkegaardiana no âmbito da angústia, do desespero e do paradoxo para fundamentar as ideias, aqui, fomentadas que acompanhará por toda a construção do filme. A Sra. Vogler é, inicialmente, o ponto de confluência de todo esse processo paradoxal cujo
teor é expresso nas palavras da doutora, que diz: “O inútil sonho de ser. Não parecer, mas ser. Estar alerta em todos os momentos. A luta: o que você é com os outros e o que você realmente é. Um sentimento de vertigem, e a constante fome de realmente ser exposta.” O desejo de ser outra de si, também, acompanhará a irmã Alma que almeja ser, por instante, a Sra. Vogler quando diz: “E o que acontece com as coisas que você decide fazer? É possível ser a mesma pessoa? (...) Eu devia ser como você. Sabe o que eu pensei depois que vi seu filme? Quando cheguei em casa e olhei no espelho, pensei:Mas nós somos parecidas.” (...) Mas acho que poderia me tornar você se tentasse. Quero dizer, por dentro. Você poderia ser eu.” Mas uma vez,
Bergman, explora o mais recôndito dos pensamentos, dos medos, da solidão e das frustrações de seus personagens. A carga de tensão em meio aos diálogos é uma constante. Os segredos mais íntimos, também, são revelados. A natureza humana se despi de sua moral. O sexo, a infidelidade, a orgia, a mentira, o aborto, a paixão, a vida e a morte, como o que há de mais humano, se desvela, também, aqui. Em uma das cenas iniciais, Bergman, para dar mais ênfase a toda esta tensão, com a música de Lars Johan Werle (1926-2001) - responsável pela trilha sonora do filme -, foca o rosto da Sra. Vogler (Liv Ullmann) após um breve diálogo com a irmã Alma na sala de enfermaria. A sensação é que a imagem, por algum instante, parece está congelada provocando, em seguida, uma forte vertigem. Na verdade, Liv Ullmann, prende a respiração, por um espaço de 1 min., permanecendo com os olhos fixos como se estivesse contemplando o vazio, ou seja, o Nada Absoluto. A morte e o instante é o ponto central dessa cena. Confesso, aqui, que tentei fazer a mesma experiência – prendendo a respiração pelo mesmo espaço de tempo – quando vi a cena pela primeira vez. A sensação foi de total instabilidade e medo. Nunca senti nada igual. A morte, o vazio e o suicídio são temas muito presentes em seus filmes. Es-
te aparece em uma cena em que a Sra. Vogler no quarto da enfermaria vê pela TV um monge - Mahayana que ateou fogo em si em forma de protesto, no dia 11 de julho de 1963, contra o governo Ngo  Dinh em Saigon, Vietnã do Sul. Imagens fotográficas de crianças, também, retratam a dor, o vazio e o medo da morte - na 2ª Guerra Mundial (1939-1945) - sendo conduzidas por soldados nazistas. A imagem é considerada uma
das fotos mais fortes do Holocausto. Ela revela um grupo de judeus - homens, mulheres e crianças - capturadas após a invasão nazista no gueto de Varsóvia (Polônia) em 1943. As crianças e, principalmente, a de boné com suas mãos alçadas e uma arma de soldado da SS apontada em sua direção
é impactante. Os rostos de medo e total incerteza do futuro é a leitura que nos diz suas expressões. E, por fim, uma cena extremamente surreal: a imã Alma com sua própria unha fere um dos seus braços e vê o seu sangue sendo sugado pela Sra. Vogler. O filme, Persona, mostra como a angústia e o desespero em meio às vicissitudes da vida fazem parte da existência humana e de como os transtornos psiquiátricos apresentados, aqui, são motivados por fatores sociais e emocionais complexos. Bergman mostra, também, as complexidades das relações humanas e de como tais processos ocorrem e influenciam as nossas escolhas. Portanto, negar esse lado obscuro da vida é mesmo que negar-se a si mesmo. Complexo e perturbador, Persona, o filme, é uma excelente obra para melhor entender os recônditos da alma humana. Espero que gostem e tenham um bom filme. Até a próxima...

Veja, também:
Ingmar Bergman (1918-2007)
Crise (1946)
Porto (1948)
Sede de Paixões (1949)
Rumo à Felicidade (1950)
Juventude (1951)
Noites de Circo (1953)
Monika e o Desejo (1953)
Sorrisos de Uma Noite de Amor (1955)
O Sétimo Selo (1956)
Morangos Silvestres (1957)
A Fonte da Donzela (1959)
O Olho do Diabo (1960)
Através de Um Espelho (1961)
Luz de Inverno (1962)
O Silêncio (1963)
A Hora do Lobo (1968)
Vergonha (1968)

Persona (1966) - Trailer Oficial
Protesto do monge Mahayana - (1897-1963)

14 comentários:

  1. Maxwell, esse não só é um dos mais intrigantes filmes de Bergman, mas de toda a história do cinema. Obra-prima perturbadora e reveladora da alma humana. Parabéns pela análise! Abraço!

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  2. Maxwell muito interessante seus posts sobre Ingmar Bergman, conheço muito pouco as obras desse tão conceituado diretor, dias desses andei dando uma olhada em algumas lojas virtuais em alguns títulos dirigidos por ele, em breve pretendo adquirir alguns...

    Parabéns pelos Posts,

    Grande Abraço

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  3. Otimo texto. Um dos meus filme favoritos. Adoro Persona, obra-prima desse diretor. As duas atrizes estão perfeitas, gosto qd as personalidades começam a se confundir. Abração.

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  4. Um filme magnífico que os distribuidores nacionais resolveram dar o ridículo subtítulo de Quando duas mulheres pecam, passando a falsa impressão de que seria um romance lésbico e atraindo assim um número maior de curiosos.

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  5. Olá, Fábio. Extremamente perturbador este filme de Bergman. Ele ocupada um espaço grandioso na história do cinema. Um abraço...
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    Oi, Jefferson. Como você é um amante da sétima arte, considero de extrema valia conhecê-lo mais. Vale a pena, irmão. Um abraço...
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    Olá, Celo. O conflito entre as atrizes é tenso do começo ao fim. Persona é um Clássico. Obrigado pelas palavras, irmão. Um abraço...
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    Oi, Gilberto. É, realmente, um filme magnífico. Modificar o título como os distribuidores, assim, fizeram foi um absurdo. Uma falta de conhecimento e, sobretudo, de respeito a este grande diretor. Um abraço, Gilberto...

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  6. Na época do lançamento de Persona em Fortaleza, sendo admiradora do grande cineasta, estava com catapora e quase perdia a "temporada" do filme. Bom demais!

    Um abraço, Maxwell,
    da Lúcia

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  7. Vamos começar pelo elenco? Bibi Andersson e Liv Ullmann; dirigidas por ninguém mais ninguém menos que Ingmar Bergman. Esse foi um dos primeiros filmes que assisti, e quando li o título traduzido (Persona- Quando duas mulheres pecam), imaginei algo completamente diferente e fiquei até com um certo receio ao assistir. Mas por ser do Bergman eu acabei assistindo. E acho que não preciso dizer que gostei.

    Tem todas as características de Bergman; é um filme perturbador, ousado... diferente de tudo.


    *Quero aproveitar pra lhe indicar um filme chamado O Enigma de Kaspar Hauser. Tem uma história muito interessante, envolve filosofia e enfim. Acho que pode te interessar e render bons textos no seu blog.

    Abraços!

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  8. Persona foi meu primeiro filme dirigido por Bergman e adorei. É daqueles que te fazem pensar muito depois de tê-lo assitido. E sua resenha me estimulou a novamente refletir sobre ele.
    Abraços!

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  9. Oi, Lúcia. É sempre um prazer poder revê-la, aqui. Qualquer esforço vale pra ver Bergman. Até mesmo com catapora. Um abraço, Lúcia...
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    Oi, Rubi. Obrigado, querida, pela visita. Você é muito bem-vinda, aqui. O primeiro filme Bergman que vi foi "O Sétimo Selo". A respeito da dica. Valeu mesmo. Irei vê se consigo este filme. Um abraço, Rubi...
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    Olá, Lê. O meu primeiro foi "O Sétimo Selo". Realmente, Persona, é um filme que mexe com qualquer Indivíduo. Valeu pela visita, Lê. É um prazer vê-la nesta bandas. Até...

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  10. O título nacional como disse Gilberto aí em cima é uma das coisas mais lamentáveis que já vi... Persona é um filme intenso com duas interpretações incríveis. E Bergman nos leva com tanta habilidade que ficamos mesmo junto com elas ali, naquela casa. Além da cena da respiração que você falou em seu texto, nunca esqueço daquele relato tão sensual e a forma como o diretor repete para que vejamos as duas faces de uma maneira mais intensa.

    abraços

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  11. Oi, Amanda. Antes de tudo, obrigado por sua visita. É um prazer tê-la, aqui. Realmente a cena da respiração é por demais provocante. Bergman é um gênio. Um abraço...

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  12. Acabei de assistir Maxwell. Sua critica condiz muito com o filme. Gostei bastante do filme e também do Diretor... Irei procurar mais filmes para ver sobre o mesmo. Abraço

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  13. Olá, André. Seja bem-vindo. Obrigado. Fico feliz que tenhas gostado. Até a próxima.

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  14. Eu vejo claramente nesse filme o mecanismo de defesa da identificação projetiva, ambas se confundem constantemente no filme...

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