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terça-feira, 17 de abril de 2012

O Sétimo Selo - Um filme de Ingmar Bergman


O Sétimo Selo (Det sjunde inseglet, 1956), do diretor sueco Ingmar Bergman, trás em seu elenco Max Von Sydow como o cavalheiro Anthonyus Block, Bibi Andersson no papel de Mia, Gunnar Björnstrand como Jons, o fiel escudeiro, e Nils Poppe, esposo de Mia, como Jof. O filme conta a história do Cavalheiro Anthonyus Block que regressa das Cruzadas, em uma época em que a Peste Negra já assolava boa parte da Europa, em pleno século XII. Após presenciar mortes, guerras, batalhas sangrentas e a ganância humana, Anthonyus retorna a Suécia repleta de dúvidas acerca da existência de Deus. Anthonyus mergulhava, assim, em uma crise existencial sem precedência. A angústia e o desespero o invadem como um redemoinho assustador. E envolto neste turbilhão vertiginoso ele diz: “(...) É tão inconcebível tentar compreender Deus (...) Como podemos ter fé se não temos fé em nós mesmos? O que acontecerá com
aqueles que não querem ter fé ou não têm? Por que apesar de Ele ser uma falsa realidade  eu não consigo ficar livre?” A todo instante a fala de Anthonyus é carregada de tensão e incerteza diante do futuro. Neste interim aparece à morte e, logo, comunica-o que o seu tempo está se esvaindo. E é aí, então, que o Cavalheiro lhe propõe uma partida de xadrez. Neste jogo está traçado o destino de Anthonyus. “Se eu vencer, diz o Cavalheiro, viverei. Se for xeque-mate, me deixará em paz.” O interessante, aqui, é a analogia que o diretor faz com o xadrez a respeito das intempéries da vida. O xadrez é um jogo de estratégia. A cada movimento de uma peça representa uma escolha. A ação não pode ser feita de maneira abrupta, senão pensada. É preciso antes de tudo, pensar antes de agir. A vida é uma disputa, as peças são as nossas escolhas, o tabuleiro a nossa existência onde tudo parece paradoxalmente confluir ou para a vida ou para a morte. E é assim que Anthonyus, a fim de ganhar tempo para resolver uma questão urgente, propõe uma disputa com a própria morte e procura justificar o motivo do jogo: “Quero usar o pouco de tempo para fazer algo de bom.” No caminho Anthonyus encontra um casal de viajantes que, mesmo em meio a tanta dor, consegue encontrar motivos para serem felizes. O cavalheiro
ver nessa vida, simples e bucólica a paz que ele tanto busca. E assim ele diz: “Isto tudo me parece mentira quando vejo você e seu marido. Parece tudo indiferente. (...) Não me esquecerei disto. O silêncio (...) Seus rostos na luz do entardecer. (...) Tentarei lembrar do que dissemos.” Bergmam procura, também, chamar atenção para o poder totalitário que a Igreja exercia naquele período, destacando aspectos vivos da influência da religião, sobre as mentes e os corpos dos indivíduos. Em uma das cenas do filme fica evidente o discurso do monge a respeito do inferno, da morte, da peste e, sobretudo, do Juízo Final. As pessoas  tornam-se não obedientes a
Deus, mas subservientes ao medo da morte e do sofrimento eterno disseminado pela religião. Os gritos, os cânticos, o discurso religioso, o martírio dos corpos e a imagem do Cristo na cruz é uma das cenas mais fortes do filme. O poder que o rito exerce sobre o imaginário humano foi e continua sendo um mecanismo de dominação muito forte até hoje. A hipocrisia de uma pseudo-fé é incorporada por todos que participam da procissão. Vítimas de uma corrupção espiritual são as poucos consumidos, hipnotizados e ludibriados por falta de conhecimento. Eis, aqui, o discurso tendencioso do religioso: "Todos padeceremos com a Morte Negra. (...) Sabem que pode ser o fim de todos. A morte está atrás de vocês. Posso ver sua sombra refletida no sol. Sua ceifeira brilha  quando a levanta sobre suas cabeças. (...) Todos vocês, idiotas e tolos, sabem que morrerão! Hoje, amanhã, depois de amanhã! Estão condenados! Vocês ouviram? Condenados!" E é dessa maneira que todo esse universo complexo é brilhantemente pontuado por Bergmam. O Sétimo Selo é, portanto, um filme com uma temática metafísica, reflexiva e instigante. Bergmam consegue confluir, nesta excelente obra-prima, aspectos controversos da fé, de Deus, da Morte, da Moral e, da tão complexa existência humana. Este é, portanto, um belo filme para vê e pensar. Até a nossa próxima postagem. Um abraço...

Veja, também:
Ingmar Bergman (1918-2007)
Crise (1946)
Porto (1948)
Rumo à Felicidade (1950)
Juventude (1951)
Quando as Mulheres Esperam (1952)
Monika e o Desejo (1953)
Noites de Circo (1953)
Sorrisos de Uma Noite de Amor (1955)
Morangos Silvestres (1957)
A Fonte da Donzela (1959)
O Olho do Diabo (1960)
Através de um Espelho um Filme (1961)
Luz de Inverno (1962)
O Silêncio (1963)
Persona (1966)
A Hora do Lobo (1968)
Vergonha (1968)

O Sétimo Selo (1956) - Trailer Oficial
Keane- Atlatic
Keane - Atlatic
Percebe-se uma forte influência do filme
,O Sétimo Selo, neste clipe.
Bergman fala sobre o filme: O Sétimo Selo.
O Sétimo Selo - Filme Completo

8 comentários:

  1. Um grande clássico do cinema. Bergman mais uma vez coloca em cheque a fé, como fez também com a trilogia do silêncio de Deus. O jogo de xadrez e a dança da morte são inesquecíveis. Abraços

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  2. Não só um clássico do Bergman, mas diria também um clássico do cinema mundial. Quem nunca viu a famosa cena do jogo de xadrez? Este é o tipo de filme que você pode assistir diversas vezes porque sempre vai reparar alguma coisa diferente. O elenco, como de costume, sempre muito bem selecionado e a história, dispensa qualquer comentário.

    Quanto aos filme de Hertha, vou te confessar, são difíceis de encontrar. E geralmente quando se encontra, não tem legendas. No entanto, posso te deixar alguns links do youtube, onde é possível assistir o filme completo (até eu encontrar uma versão legendada).

    Aí vão eles:

    http://www.youtube.com/watch?v=Ix1ROwz4EQ4

    http://www.youtube.com/watch?v=duXOgKt0qO0

    Assim que encontrar outros, numa versão legendada, te envio os links!

    Até breve.

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  3. Olá, Gilberto. É, realmente, um Grande Clássico. Bergman é de uma sutileza fantástica ao tratar de temas tão polêmicos. Um abraço...
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    Olá, Rubi. É um prazer tê-la, aqui. Concordo com você quando se refere a este filme, O Sétimo Selo, como um Grande Clássico do cinema mundial. Bergman é pra ser visto e revisto por diversas gerações. Um abraço...

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  4. Ahhhhhhhh... Bergman é Bergman. Sem dúvida um dos meus diretores favoritos e O Sétimo Selo um dos melhore filmes do cinema. Parabéns pela abordagem! Deu até vontade de rever.
    Grande Abraço!

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  5. Me preparei todo pra assistir este filme recentemente mas não deu, tenho que vê-lo mesmo.

    __

    algunsfilmes.blogspot.com

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  6. Olá, Celo. Sou fã de Bergman. O Sétimo Selo é, realmente, fantástico. Vale a pena revê-lo. Um abraço...
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    Oi, Marcos. Reserve um tempo. Vale a pena. Um abraço...

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  7. Grande clássico do cinema de todos os tempos. Parabens pelos belíssimos posts que tem nos trazido retratando a obra de Bergman,
    Eu lamento muito o fato de ainda não ter esse filme em minha coleção, quase nunca tem para comprar e quando aparece em algum site ou loja o preço nem sempre é interessante.

    Grande Abraço,

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  8. Oi, Jefferson. Mais uma vez, obrigado pelas palavras. Realmente os filmes de Bergman não são tão bons os preços. Aqui eu pus o filme na íntegra. Tente baixar pelo youtube. Um abraço...

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