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domingo, 22 de abril de 2012

A Fonte da Donzela - Um filme de Ingmar Bergman


A Fonte da Donzela (Jungfrukällan, 1959), do aclamado diretor sueco Ingmar Bergman, trás em seu elenco principal Max Von Sydow (Herr Töre); Birgitta Valberg (Märeta Töre); Gunnel Lindblom (Ingeri) e, por último, Birgitta Pettersson como Karin Töre. Ambientado na Idade Média do século XIV, país Suécia, o filme conta a história de uma família religiosa que vê na prática ritualística o único meio para alcançar o sagrado. Com eles vive Ingeri, uma jovem pagã, grávida e abandonada, que presta homenagens Odin, principal deus da mitologia nórdica. Movida por um ódio e inveja descomunal, ela busca por meios desses rituais destruir com a vida da bela e jovem donzela Karin Töre, filha do Sr Herr Töre. É a partir deste conjunto de situações que o rito, seja ele cristão ou pagão, passa ocupar um local de destaque na vida e na conduta moral destas pessoas. Ao se aproximar a Sexta Feira da Paixão o Sr. Herr Töre pede a sua esposa, Märeta Töre, que prepare a sua filha para levar
as velas a Virgem à Igreja. Ansiosa por cumprir o ritual, ela põe o seu melhor vestido, mais pela vaidade do que pela homenagem em si, ela parte. Detalhe: apenas as virgens poderiam conduzir as velas ao templo. A jovem donzela parte acompanhada com, Ingeri, a criada da família até que em dado momento elas se separam. Sozinha, a virgem encontra pastores que aproveitam a oportunidade para estuprá-la, matá-la e, depois, roubá-la. Atordoados, com o homicídio, os pastores fogem e chegam à casa dos pais da donzela, que não sabem que os tais são os assassinos de sua própria filha, onde recebem guarita,   comida e trabalho. Sem saber, que estão na casa dos pais da vítima, passam a viver ali como se nada tivesse ocorrido, até que um dia um dos pastores oferece a mãe, em troca de dinheiro, a túnica de seda da sua filha toda suja, rasgada e ensangüentada. A frieza como a cena se processa e o modo como o um dos pastores tentam justificar a venda do vestido, afirmado sê-lo de sua irmã que morreu pouco tempo antes da missa ,assume características surreais. O diretor, Ingmar Bergman, explora a maldade humana até as últimas conseqüências. A banalidade do mal e de como as ações nocivas são perpetrada, ao longo do filme, compõe um cenário nefasto, doentio e angustiante. A jovem serva que deseja a morte da donzela e os pastores que a estupram é a continuidade de uma mal que cresce a cada compasso. Esse mal toma proporções, ainda, maiores quando a mãe da donzela comunica ao seu esposo que os assassinos de sua filha estavam bem, ali,
perto deles. Movido por uma ira e sede de vingança o Sr.Herr Töre, parte ao encontro dos pastores para matá-los e, em seguida, segue com sua mulher e seus servos em busca, agora, de sua filha. Ao encontrá-la morta, em total desespero, ele diz : “O Senhor viu. O Senhor viu. A morte de uma criança inocente e a minha vingança. O Senhor me permitiu. Não entendo você! No entanto, agora eu imploro o Seu perdão. Não sei como recuperar a paz sozinho. Não conheço outro modo de viver. Eu prometo Senhor... aqui, perante o corpo de minha filha... eu lhe prometo que construirei uma Igreja, como penitência pelo meu pecado. Ela será construída aqui. De pedra firme e com minhas mãos!” O perdão, aqui, dá lugar a vingança. O paradoxo maior consiste em que as mesmas mãos que decretou a finitude dos pastores são as mesmas que construíram o templo para remissão de sua culpa. Mas uma vez, Bergman mostra de maneira sutil como a religião se disfarça em meio à maldade humana e de como a sua essência se deve ao aparecimento da miséria do outro. As cruzadas, na Idade Média, em nome de Deus foram movidas pela ganância do homem pelo poder. Este evento histórico foi responsável, também, por milhares de mortes, derramamentos de sangue e espólios de guerra que culminaram no enriquecimento ilícito e na construção de um “império da fé”. Nos dias de hoje este engodo assume uma nova roupagem moderna: as igrejas contemporâneas sagram seus fiéis lhes arrancado o dinheiro como prova de fé por suas escolhas, culminando com aparecimento de templos como representações do sacrifico dos seus seguidores. Repletos de sincretismos religiosos esses sacerdotes mesclam o Evangelho com outras práticas distintas desdenhando a sua essência em nome do poder do falso arrependimento. A Fonte da Donzela é, portanto, ainda, muito atual. Demasiadamente provocante e reflexivo. Espero que tenham gostado e até a nossa próxima postagem.

Veja, também:
Ingmar Bergman (1918-2007)
Crise (1946)
Porto (1948)
Sede de Paixôes (1949)
Rumo à Felicidade (1950)
Juventude (1951)
Quando as Mulheres Esperam (1952)
Monika e o Desejo (1953)
Noites de Circo (1953)
Sorrisos de Uma Noite de Amor (1955)
O Sétimo Selo (1956)
Morangos Silvestres (1957)
O Olho do Diabo (1960)
Através de um Espelho (1961)
Luz de Inverno (1962)
O Silêncio (1963)
Persona (1966)
A Hora do Lobo (1968)
Vergonha (1968)


A Fonte da Donzela (1959) - Filme Completo

10 comentários:

  1. Ola,Obrigado pela visitinha meu amigo.Realmente Ingmar Bergman é um dos diretores mais intensos já vistos no cinema até hoje.Seus filmes jamais serão esquecidos por quem os viu.Parabéns pelos teus excelentes e detalhados textos.Grande abraço.

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  2. Tó gostande de ver, adentrando a filmografia do mestre. Esse, é um dos poucos que não conferi, mas deu maior vontade. Esse ano ainda não assisti um Bergman.

    Grande Abraço!

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  3. Olá, Suzane. Obrigado pelas palavras. Realmente, Bergman, é um dos diretores mais intensos do cinema. Um abraço...
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    Oi, Celo. Esse é dos melhores. A maneira como o diretor, Bergman, mergulhas na complexa natureza e seus conflitos é explícito, aqui. No mais um abraço...

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  4. Um filme primoroso. E o pior que muito realista. Existem pessoas que fazem o mal e permanecem por perto para se fingirem de amigos (apesar de no filme os assassinos não terem a consciência de que estão na casa dos pais da moça morta). Mas a vingança do pai é fenomenal...

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  5. Grande Maxwell, ótimo Post. Ingmar Bergman realmente, um grande gênio. Eu não sou muito aficionado pelo cinema europeu mas esse junto com Vitorio de Sica e Truffaut são alguns dos nomes indispensáveis para qualquer cinéfilo.
    Parabéns pelo Post.

    Abração

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  6. Olá, Gilberto. O filme tem um conteúdo rico para ser explorado. A temática religiosa está sempre presente nos filme de Bergman. É um filme indispensável.
    ***********************************
    Oi, Jefferson. Obrigado. Você é sempre bem-vindo, aqui. Concordo com você a respeito de Vitorio de Sica e Truffaut. Junto com Bergman e outros são indispensáveil. Um abraço...

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  7. Não acredito que deixei passar esse filme. Foi um dos primeiros que vi do Bergman, e a partir dele, passei a me interessar pelos outros. Tudo nesse filme é incrível! E aproveito o comentário do Gilberto pra dizer que a vingança do pai é é uma das melhores cenas.

    Abraços!

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  8. Olá, Rubi. Esse filme é, realmente, fantástico. A cena em que o pai vê os assassinos de sua filha e, logo, reconhece o corpo de sua filha é chocante. No mais um abraço, Rubi.

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  9. Parabéns pelo blog, rapaz!
    Textos ótimos para grandes filmes.
    Vale a visita!


    Abraço

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  10. Obrigado pelas palavras, Patrick. Um abraço...

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