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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Saraband - Um filme de Ingmar Bergman

*Fim da Sessão Ingmar Bergman*

Saraband (Saraband, 2003), do diretor Ingmar Bergman, trás em seu elenco principal: Liv Ullmann no papel de Marianne, Erland Josephson como Johan, Börje Ahlstedt (Henrik) e, por último, Julia Dufvenius no papel de Karin. O filme conta a história de Marianne - uma mulher de 63 anos, advogada bem sucedida - ex-mulher de Johan, um professor aposentando, 86 anos, que vive em uma casa de veraneio que foi de seus avós. Casados por 16 anos, tiveram duas filhas, a saber: Martha (Gunnel Fred) que vive em um asilo enquanto Sara vive na Austrália e é casada com um advogado de sucesso. Após longos 30 anos de separação, Marianne resolve visitá-lo. Neste espaço de tempo em que estiveram juntos puderam relembrar do passado e de alguns bons momentos. Johan aproveita para falar do seu filho, Henrik, que, logo, após a morte de sua mulher, Anna, não suporta a sua ausência e se aposenta prematuramente. Dirigente de uma orquestra chamada Uppsala Chamber Soloists decide abandoná-la. E passa a se dedicar apenas ao livro Paixão Segundo São João que está escrevendo e aos ensaios árduos com sua filha, Karin, de apenas 19 anos tocadora de celo, com quem não vivem uma boa relação. E para piorar, sob as exigências e vigilância do pai, ela se prepara contra a sua vontade para fazer um teste para o conservatório em outono. E é neste contexto que Marianne, agora, instalada por alguns dias na casa do seu ex-marido conhece Karin, neta de Johan, e percebe a sua frustração pela perda da mãe e passa, então, a entender melhor a relação tumultuada dela com o seu pai. Além dos conflitos com sua filha, Herink não comunga de  um bom  entendimento, também, com o seu pai - Johan. E em meio a este universo angustiante de indiferença e dor que Bergman procura mergulhar nos recônditos da natureza humana e das escolhas que faze-
mos diante das possibilidades da nossa existência. Há uma cena curiosa em que Henrik vai à casa do pai em busca de dinheiro. Johan está em sua biblioteca particular folheando um livro de Kierkegaard (1813-1855), filósofo dinamarquês e pai do existencialismo moderno, - Ou isso, ou aquilo: um fragmento de vida. O diálogo entre os dois é tenso e marcado por uma frieza sem igual. Destaque também, aqui, pela presença do religioso. Temática muito recorrente nas obras de Bergman. Fica evidente, em uma das cenas, a presença do Sagrado, em uma capela, quando Marianne houve Henrik executar no órgão Um trio sonata de Bach, 1º movimento. O silêncio, bem próprio do local, a conduziu por um instante a uma espécie de ascese similar ao estágio religioso. Uma das cenas mais belas do filme: Marianne, após a saída de Henrik, caminha em direção a porta principal do templo e, de repente, uma luz  externa surge entre as janelas da Igreja dando um ar de sublimidade e graça. A presença da luz no ambiente vai ficando cada vez mais intensa, obrigando-a retor-
nar em direção ao altar. Os movimentos são marcantes: como o sinal de reverência em que Marianne curva a sua cabeça diante do altar. Neste ínterim Johan convida sua neta, Karin, para uma conversa em particular a respeito do seu futuro como musicista. Mostra-lhe uma carta que recebeu de um amigo e famoso maestro em S. Petersburgo, Ivan Chablov, desde a época quando ele morou em Lenigrado. O texto era um convite para que sua neta tivesse uma chance para desenvolver sua carreira artística. No entanto, os problemas do pai e da perda da mãe eram obstáculos na vida de Karin e das escolhas que, supostamente, a obrigavam a fazer. Ela, em meio ao desespero, recorre a Marianne em busca de ajuda para os seus fortes dilemas. Já em casa e disposta a não mais a fazer os caprichos do pai, Karin afirma não querer ir ao concervatório e decide, portanto, a seguir os próprios passos. E numa conversa franca ela diz ao seu pai: "Já me decidi. Pela primeira vez na vida, a decisão é minha. (...) Vou para Hamburgo com a Emma, na semana que vem. Vamos para uma escola para jovens músicos de orquestra. (...) Isso é exatamente o que quero fazer. E é exatamente o que decidi fazer". Henrik  não podendo mais impedir e muitos menos controlar as vontades e escolhas de sua filha, vê de maneira abrupta o cordão umbilical sendo rompido restando, apenas, um único pedido: que executasse  a quinta sarabanda. A saída de Karin foi o estopim na vida de Henrik. E não suportando a dor que só crescia tentou se matar ingerindo comprimidos e  com uma lâmina de barbear cortou seus pulsos e pescoço sendo socorrido as pressas para UTI, onde se recuperava. A indiferença de seu pai, Sr. Johan, quando sobe a notícia da tentativa de suicídio de Henrik é uma das cenas mais dolorosas do filme. A falta de amor e compaixão é exorbitante  entre os dois. Fruto de uma criação sem o cultivo do amor. Henrik cresceu e, logo, se tornou um indivíduo igual ao pai. Mas é no silêncio  em que as lembranças advém
e o sentimento de culpa recai sobre Johan em seus aposentos. A cena é triste e carregada emoção. No escuro e só, ele chora e mergulha em seus próprios fantasmas. No entanto, o filme reserva, também, momentos belos: é quando ele vai ao quarto de Marianne e juntos, como nos velhos tempos, dormem juntos em uma cama estreita. Detalhe: ambos estavam, totalmente, nus. Passado alguns dias, Marianne retorna a sua casa. Aos poucos os contatos com Johan vão ficando cada vez mais diminutos e a vida como é de se esperar está por findar. Saraband, o filme, é mais um grande trabalho de Bergman. Repleto de emoção e forte sensibilidade o diretor, aqui, retrata aspectos intrínsecos da existência humana. A angústia em meio as escolhas, o caráter autônomo do indivíduo, as paixões,  a ética, a relação com o sagrado, a liberdade, os estágios da existência são ideias marcantes neste filme. O diretor mostra como a vida vivida é aquela a qual conferimos sentido. E, portanto, conferir sentido a existência é ter consciência de suas escolhas mediante o outro, bem como as suas próprias implicações morais. E é, assim, que terminamos, aqui, mais uma  Sessão. Esta, inteiramente, dedicada a um dos maiores gênios do cinema munidal - Ingmar Bergman. Espero que  tenham gostado.  Até a próxima postagem...


Saraband (2003) - Filme Completo

12 comentários:

  1. Muito bom rever esses personagens depois de tanto tempo e principalmente Liv Ullmann que eu adoro.

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  2. Esse filme é encantador.
    Parabés por seguir com a iniciativa de comentar a filmografia de Bergman!

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  3. Cara, meus sinceros parabéns por esse especial. Vc é um catedrático em Bergman, uma das maiores autoridades no assuntos. Voltei com o Blog, hein!
    Apareça! Abração.

    http://espectadorvoraz.blogspot.com.br/

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  4. Olá Maxwell, tudo bem? Voltei.Faço coro com o seu leitor acima. Que delícia te ler, Maxwell. Que seriedade e leveza ao mesmo tempo, que competência. Amo suas sinopses.Esse filme foi show,gostei muito. Falar/ler/ouvir sobre Bergman já é encantador,com suas palavras então...:)Continue,please.

    Um beijo, Maxwell, e obrigada por sua agradável visita.

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  5. Liv Ullmann é, realmente, incoparável. Obrigado, também,por seus comentários, aqui, Gilberto Carlos. Um abraço...
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    Olá, Patrick Corrêa. Muito obrigado. Fico feliz que tenhas gostado. A sua participação, aqui, foi maravilhosa. Um abraço...
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    Oi, Celo Silva. Fico linsonjeado com tantas palavras suas, Celo. Tê-lo, aqui, com seus comentários só enaltece o Sapere Aude. Obrigado de coração, irmão. Um abraço...
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    Oh, Lau. Obrigado. Você é, realmente, muito gentil. Tê-la neste espaço - Sapere Aude - é um prazer sem medida. E saber que está sendo agradável aos seus olhos só aumenta mais, ainda, o desejo de continuar escrevendo. Um abraço e muito obrigado...

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  6. Conferir toda a filmografia de Bergman deve ter sido um trabalho recompensador, não? Eu vi poucos filmes deste grande diretor, mas cada um deles foi uma grata surpresa. Parabéns pela iniciativa!
    Abraços!

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  7. Olá, Lê. Obrigado pelas palavras. Bergman e toda a sua filmografia é maravilhosa. E olhe que, ainda, falta ver outro dele. No mais um abraço...

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  8. Que trabalho incrível! Quanta dedicação! E você ainda conclui a Sessão com Saraband... é redundante dizer que foi uma excelente escolha. Gosto bastante desse filme; Liv, mesmo mais velha, dá um show de interpretação. Costumo dizer que nenhum filme resume a carreira de Bergman, mas a torna completa. Parabéns por este especial, e espero que venham outros. Com toda certeza, estarei aqui para acompanhar!

    Abraços!

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  9. *Quero agradecer pelo comentário. Fiquei extremamente lisonjeada com ele. Eu realmente pesquiso muito, e sempre fico com um certo receio quando vou escrever, por achar que pode ficar cansativo. Suas palavras me provaram o contrário; muito obrigada!

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  10. Olá, Rubi. Fico feliz que tenhas gostado. Falar de Bergman, aqui, foi um prazer. E tê-la como amiga neste espaço é de extrema satisfação. O seu talento faz de você, Rubi, uma pessoa diferenciada. Parabéns, amiga. Um abraço...

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  11. Realmente esse filme é muito intenso. Nas obras desse diretor, ha tanta carga e peso nos diálogos, incrivel, ele simplesmente no joga contra a parede e faz com que seus personagens encarem o pior de si.

    Um filme intenso e soberbo e muito interessante seu blog, gostei, tbm gosto curto muito mitologias. Ultimamente estou mais interessado na mitologia celta, rsrs se é assim q posso falar, he, abraços

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  12. Parabéns pelo trabalho, deve ter sido prazeroso e doloroso, no mínimo, cansativo... Mas quando fazemos o que gostamos tudo é mais leve, né?
    De uma coisa pode ter certeza, vale à pena. Graças ao seu trabalho, assisti meu primeiro filme de Ingmar Bergman (agora sou uma mocinha!), fiquei curiosa depois de ler o texto e encantada com o filme!
    Obrigada, Sapere Aude é um lugar onde encontro recomendações incríveis! É sempre um prazer passar por aqui. ;)

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Fugitivos da caverna comentam, aqui: