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FlashVortex.com

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Hora do Lobo - Um filme de Ingmar Bergman

"Agora, olhe-se no espelho. 
Agora, é você mesmo e, porém, não é. 
O estado ideal para um encontro de amantes".

Do diretor sueco, Igmar Bergman, A Hora do Lobo (Vargtimmen, 1968), traz em seu elenco principal Max von Sydow como Johan Borg - um pintor que vive atormentado por constantes alucinações -, Liv Ullmann como Alma Borg - esposa de Johan Borg que busca incansavelmente viver ao lado do seu marido em meio as turbulências de sua própria loucura - e Ingrid Thulin no papel de Veronica Vogler - uma mulher linda, sedutora e objeto das alucinações de Johan Borg. O filme começa com a chegada de Johan Borg e sua esposa Alma Borg na ilha de Baltrump a bordos de uma embarcação. Já acomodados em uma casa isolada na ilha, Johan, bastante impaciente, aproxima-se de Alma e mostra-lhe um caderno de esboço contendo desenhos de pessoas que ele julga serem reais em sua imaginação e que, na verdade, não passam de alucinações. Todo aquele momento vivido por Alma é tenso e vertiginoso. Preocupada em viver uma relação plena e normal, ela se esforça para tentar em meio a esse turbilhão de dores fazer valer o seu o amor para com ele que vive mergulhado em um mar de devaneios
e fortes alucinações. Eis as suas palavras iniciais: "Não é verdade que velhos que passaram a vida juntos começaram a ficar parecidos? Enfim, compartilham tantas coisas que seus pensamentos e rostos assumem a mesma expressão. (...) Espero que fiquemos tão velhos que pensemos os pensamentos um do outro e que fiquemos com rostos idênticos... pequenos, secos e enrugados." O envolvimento e participação efetiva dela no universo de Johan Borg, ocorre no primeiro momento quando ela se depara com uma senhora (Naima Wifstrand) toda de branco aconselhado-a para que não o deixe mexer em um diário que está guardado em um saco preto embaixo da cama. Ao comunicar o recado ela torna a desaparecer abruptamente, deixando Alma Borg confusa e inquieta. Obedecendo o conselho da senhora, Alma parte em busca do diário e, ao encontrá-lo, o lê até a chegada de Johan que se encontrava pintado em local descampado. Nesse ínterim, Johan recebe a visita de Veronica Vogler - fruto de objeto alucinado de sua própria e confusa consciência - que julga ser objeto de sua paixão e desejos incexplicáveis. A presença de Veronica em seu campo de percepção parece tão real quanto a existência inexistente de Alma. Veronica aparece não só para alimentar o desejo dele de vê-la, mas de querer possui-la em meio a sua loucura. Assustado com tudo, Johan é seguido pelo curador, Heerbrand, que trabalha aos serviços do Baron von Merkens. Atormentado com a perseguição se põe a correr desesperadamente. Ao chegar em casa, Johan comunica a sua esposa que acabara de receber um convite do Baron von Merkens (Erland Josephson) - o
dono da Ilha e de um Castelo do século XIV do lado norte - para irem participar de um jantar. No jantar toda a familia do Barão são apresentados, inclusive o curador que a pouco o seguia. No jantar Johan e alma são afrontados com seus próprios medos. Em silêncio eles presenciam os mais absurdos diálogos. As histórias, as ideias e as atitudes dos participantes são
todas no mínimo estapafúridas. Ao retornar à casa, no meio do caminho, ela diz que leu o diário e que acredita que algo de ruim está para acontecer. Percebendo a mudança de Johan e envolta em um ato de desespero ela diz: "Mas se você acha que vou fugir, eu não vou! Não importa o quão assustada eu fique, não fugirei! (...) Estão tentando nos separar. Eles querem você. Enquanto estou com você, é muito mais difícil para eles. Não irei embora, não importa o quanto eles tentem!" Já em casa, à noite, passado a discussão, Johan revela os motivos de suas angústias em meio as indagações de sua mu-
lher. "Houve um tempo, diz Johan, no qual as noites eram para dormir um sono profundo, sem sonhos. Eu não posso dormir. Eu acordo de medo. (...) Tenho feito vigília tosas as noites até o amanhecer. Mas esta é a pior hora. Sabe como se chama? (...) Os mais velhos costumavam chamá-la de "a hora do lobo". É a hora em que a maioria das pessoas morrem e a maioria das crianças nascem. É agora que os pesadelos vêm até nós." Neste instante a doença de Johan só se agrava e os seu fantasmas ganhavam espaço cada vez maior em sua vida. A morte e o suicídio, temas recorrentes nas obras de Bergman, possui, também, o seu espaço na vida do pintor. Um ferimento que outrora havia feito Alma acreditar que fosse uma suposta picada de cobra, era mais um dos seus confrontos com um fantasma de suas crises. Esse fantasma era um pré-adolescente, que o ataca ferozmente até Johan conseguir matá-lo. A morte do jovem que, logo, teve o seu corpo lançado ao mar é uma cena fria, indigesta e tétrica. Típico das composições de Bergman. Johan passa a revelar, também, todos os seus traumas e os castigos que sofria quando criança de maneira que parece ter um forte indício com a construção nefasta de seu caráter hodierno. E entre uma conversa e outra, em sua porta, chega o curador a mando do Barão para convidá-los para uma festa no castelo. Na oportunidade é lhe dado uma arma para sua própria defesa na ilha e, em seguida, se retira. Alma não satisfeita, ainda, com todas as supostas revelações feitas por ele, não hesita em tocar em sua pior "ferida" quando pede mais explicação a respeito de Veronica Vogler, objeto de sua paixão. Irritado e impaciente e, agora, de posse de uma arma, deflagra três tiros em sua direção acertando, apenas, um tiro de raspão em seu braço. E em meio a toda essa insanidade, no ápice da sua loucura, parte desesperadamente ao encontro de Veronica Vogler por entre os corredores escuros do castelo até encontrá-la deitada envolta em um longo lençol branco. Ao descobri-la, descobre, também, a sua nudez. Enquanto isso Alma sai, mesmo ferida, a procura de seu marido na tentativa de resgatá-lo. E o que vê: a dor, o vazio, o medo, a solidão e a morte. Forte e, às vezes, indigesto, A Hora do Lobo, nos surpreendende com uma história repleta de arquétipos psicológicos. Bergman mergulha fundo e vasculha os recônditos mais enigmáticos da natureza humana, a saber: o amor de Alma por Johan que ora se confunde com submissão, compaixão ou comiseração, as dores que marcaram a infância sem afeto de Johan e a loucura como uma fuga temporária da realidade. O filme termina com uma fala reveladora de Alma a respeito de sua relação com Johan. Eis suas palavras finais: "Gostaria de lhe perguntar algo.(...) Não é verdade que quando uma mulher viveu um longo tempo com um homem... não é verdade que ela fica igual ao homem? Já que ela o ama e tenta pensar como ele. Dizem que isso pode mudar uma pessoa. Foi por isso que comecei a ver aqueles fantasmas? Ou eles já estavam lá de qualquer jeito?" A Hora do Lobo é um filme forte e de grande relevância filosófica, social e psicológica. Ideal para entender os meandros da alma humana. Assim, espero que tenham gostado. Um abraço e até a próxima...


Veja, também:
Ingmar Bergman (1918-2007)
Crise (1946)
Porto (1948)
Sede de Paixôes (1949)
Juventude (1951)
Noites de Circo (1953)
Monika e o Desejo (1953)
Sorrisos de Uma Noite de Amor (1955)
O Sétimo Selo (1956)
Morango Silvestres (1957)
A Fonte da Donzela (1959)
O Olho do Diabo (1960)
Através de Um Espelho (1961)
Luz de Inverno (1962)
O Silêncio (1963)
Persona (1966)
Vergonha (1968)

A Hora do Lobo (1968) - Trailer Oficial
Uma das cenas mais pertubadoras do filme

10 comentários:

  1. Ainda não vi esse filme, o bom é que estou conhecendo coisas super delicinhas aqui...

    E esse filme como outros que você indicou aqui parece ser muito bom. Esse parece ser forte, cheio de emoções e ao mesmo temo uma certa ternura...

    Ainda não assisti Monika, mas depois esse será o próximo!

    Continue postando, querido.

    Um abraço.

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  2. Ah! Agora sim vou poder deixar um bom comentário a respeito deste filme (que já assisti) Pra começar; elenco fantástico. Liv Ullmann e Max Von Sydow no elenco somado a genialidade de Bergman só poderia resultar num filme como este, maravilhoso. É engraçado como Bergman aborda certos temas; por mais que o tempo passe, seus filmes não envelhecem nunca.

    O circo realmente é encantador e mágico. Gosto quando filmes abordam este tema, afinal, muitos atores começaram suas carreiras por aí. Quando puder, assista La Cabalgata del Circo; foi um dos filmes mais bonitos que já vi.

    Parabéns mais uma vez pela escolha do filme. E até a próxima!

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  3. Um dos filmes mais complexos de Bergman. Não é fácil de se ver em momento algum.

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  4. O filme é realmente perturbador e deixa pensando por muito tempo. Desde que vi, sinto a necessidade de ver mais uma vez.
    O texto está tão pertubador quanto o filme.

    Abraço

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  5. Olá, Rô. É sempre um prazer tê-la,aqui. Você com suas palavras carregadas de gentileza. Fico lisonjeando. A respeito das postagem anterior, "Monika e o Desejo", penso que você irá gostar. Este, "A Hora do Lobo" é mais denso. Mas é um bom filme, também. No mais um abraço...
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    Oi, Rubi. É verdade: os filmes de Bergman não passam. São vivos e atuais. A respeito da "La Cabalgata del Circo" iré sim vê-lo. Obrigado pela dica. Um abraço, Rubi...
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    Oi, Gilberto. Penso, assim, como você. É um dos filmes mais complexos de Bergman. É um grande filme. Obrigado por sua visita. Valeu, irmão.
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    Olá, Patrick Corrêa. Com certeza é, realmente, um filme perturbador. A primeira vez que vi fiquei por um tempo parado no cadeira. Bergaman nos surpreende a cada filme. É um gênio. Um abraço, Patrick.

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  6. Um filme tenso, onde os personagens principais tem a própria sanidade questionada. Não vi o filme, mas acredito que frase final, da Alma, tenha sido mais um de vários trunfos do Bergman; pois provoca um misto de dúvida e reflexão. Mergulhou fundo na alma humana!

    Parabéns pela resenha e análise!

    Bjs ;)

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  7. Olá Maxwell, como vai? Quanto tempo...
    Olha...vou ter que tirar um dia para me deliciar com essas sinopses impecáveis. Falar de Bergman é só utilizar adjetivos.Amei esse filme.Interessante que publiquei um poema intitulado "Alma". Veja o fenômeno da sincronicidade.
    Um abraço e meus parabéns!

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  8. Oi, Ana. Você resumiu muitíssimo bem a ideia do filme. É isso mesmo. Vale a pena conferir. Um abraço...
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    Oi, Lau. Que bom vê-la por estas bandas. Bergman é, realmente, fantástico. Acerca de sua postagem irei, sim, conferir com maior prazer, Lau. Um forte abraço...

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  9. Oi Maxwell,bom dia, deixe seu link no meu último post.:)Citei um filme e aproveitei a deixa.:)Suas sinopses estão excelentes!!

    Um abraço.

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  10. Oi, Lau. Poxa. Que surpresa agradável revê-la, aqui. Você sempre surpreendendo, Lau. Obrigado pelo link do meu espaço em seu blogger. Fico, realmente,lisonjeado. Um abraço...

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